Tudo começou pela paixão automóvel que me assolapa. Na ceia de Natal de 2005 discutíamos à mesa automóveis, velocidades, consumos, fiabilidade, charme e tudo o mais que envolve o mundo automóvel, na minha opinião e na de mais alguns presentes, chegamos à conclusão que os clássicos tinham mais charme, um je ne sai quoi , que os novos não tem, pois na sociedade consumista de hoje um modelo recente é sempre espectacular, mas com a chegada dos novos modelos da mesma marca ou até de outras, deixamos de lhes dar a importância que eles tinham quando novos. É como aquela máxima, (a beleza é efémera). Quem não olha para o actual classe C ou classe E e o prefere em detrimento do exactamente anterior? Com os modelos muito mais antigos, essas comparações já não existem! Nem seriam possíveis, é inegável que a maior parte dos automóveis novos, mesmo de marcas que não as ditas de prestígio, são incomparavelmente superiores e melhores que os melhores antigos, quer a nível de conforto, comportamento e até fiabilidade em muitos casos.
Mas o passar dos anos, a já sua relativa raridade, a personalidade própria que certas viaturas antigas tem, principalmente os desta marca, transmitem-nos um certo prazer a níveis diferentes, atira-nos para uma nostalgia agradável das coisas simples da vida. E atenção que eu nem sequer sou mais velho que este automóvel.
Chegada a esta conclusão depara-se com a escolha do clássico, Qual? Caiu-se nos clichés comuns, MGB; Triumph; Carochas; Minis; 2Cv; Citroen Traction (arrastadeira); Mercedes SL (qualquer um é fabuloso); BMW 2002; Porshe 911; e por aí fora.
Eis que temos de limitar as escolhas, pois existem muitas variáveis a ter em conta.
A primeira é que queria-mos ser nós a restaurar o carro e não comprar um já restaurado, tinha de ser um carro fácil de restaurar, um carro em que se encontrassem peças ainda com alguma facilidade, um carro que apresentasse uma boa fiabilidade após o restauro e por final, ter uma boa economia de utilização, que os tempos não andam para desperdício de €€ e ter carros parados em casa porque consomem muito, é que não, as coisas começavam-se a complicar na escolha da viatura, poucas marcas nos modelos antigos de podem dizer que são fiáveis, e carros económicos antigos quase não existem.
Sempre fui apreciador dos carros dos anos 60/70, e pensei… Um w115 a gasóleo era perfeito, é quase o carro mais lento do mundo, mas é económico, é fiável, é confortável, tem um aspecto que adoro, ainda é fácil de arranjar peças, a mecânica é simples e é um Mercedes.
O modelo escolhido...
Estava decidido.
Poucos dias depois vejo na Net o anúncio do meu à venda.
Dia 31 de Dezembro de 2005 vou ver o arranque do Dakar a Lisboa e no caminho faço um desvio por Viseu para ver o “bicho”, nem andava, tinham-lhe colocado gasolina no estômago e requeria uma lavagem, com risco de danificar a bomba injectora.
Passado alguns dias fomos busca-lo de reboque. E depositamo-lo em casa.
O estado em que chegou...
Mesmo mal tratado...
A odisseia começou.
Começamos a desmonta-lo todo, catalogando todas as peças retiradas, de modo que não sobrassem peças aquando da montagem.
A aventura começou...
As garragas de gás estavam vazias... as que estão lá atrás estavam cheias!!!
Foi todo desmontado até ao osso por mim e pelo meu pai, contudo tivemos de recorrer a serviços externos, os quais não tínhamos ou condições ou capacidade para sermos nós a efectuar, (nunca estivemos ligados ao ramo automóvel em nenhuma vertente).
Tampa das valvulas...
Estava limpinho...
As pernas foram cortadas...
de outra forma o guincho não tinha alcance para por na mesa.
O Concerto de chapa e pintura foi efectuada numa oficina de chapeiro de um primo meu, o qual me fez um bom desconto, a rectificação do motor foi feita num local próprio e não num mecânico qualquer, os estofos também foram novos e efectuados por profissionais e a finalização da parte eléctrica foi feita por um tio meu que é electricista de automóveis, e agora dizem vocês, então não fizeste nada no carro? Pois é apesar de tudo isso, desmontar e montar um carro de novo dá mesmo muito trabalho, para além do que nos vem a cabeça. Muito trabalho de investigação, viagens às sucatas, horas na Net, onde muitos cibernautas deram uma preciosa ajuda.
Muita chapa para arranjar...
Os buracos continuavam a aparecer...
Pintura irrepreensível...
Devo destacar com um grande agradecimento dois utilizadores do fórum "ambenz" o Faísca, pelas suas dicas de sites onde ir buscar informação para o meu bicho e que tanto estavam a ser necessárias nessa altura, e Especialmente ao Nuno Pinto que prontificou-se a vir a minha casa com o seu w115, para eu poder tirar duvidas e aperceber-me do que era um w115 a funcionar, pois apesar de tudo antes desta odisseia, não tinha tido contacto com estes carros.
A primeira peça...
O primeiro "estofo" no tejadilho e arranjos electricos...
Mas uma coisa digo, foi uma experiencia fabulosa a todos os níveis, o carro ficou exactamente como eu queria, nas condições que eu queria.
Pelo meio houve imensas peripécias, que não vou descrever, por correr o risco em tornar isto num livro.
Para informações técnicas sobre este modelo podem encontrar neste mesmo site mais detalhes. Por isso não vou divagar por aí mas sim descrever este carro, os seus extras e testemunhar o prazer de condução que este carro transmite. Nesta descrição tenho como ponto de comparação (não directa, claro) os outros carros que conduzo frequentemente, um Mercedes c 250 turbo diesel de 1997 e um Mitsubishi Pajero 2500 de 1999. Para se perceber que a diferença entre o w115 e os automóveis de agora não é assim tanta.
Este carro como já notaram obviamente, é um sedam de 4 portas, tem um conforto de utilização para os passageiros bastante assinalável, é um carro que perdoa praticamente todas as imperfeições da estrada, diria que ainda mais que os meus outros automóveis, fruto da sua inovadora suspensão independente, continuando no capitulo do conforto, está dotado com encostos de cabeça nos bancos dianteiros, encosto de braço, rebatível para o condutor: encosto de braço rebatível para os passageiros de trás; vidros eléctricos à frente (de origem claro), retrovisores reguláveis por dentro com vidro anti encadeamento; antena eléctrica; relógio; chaufage independente como poucos carros tem ainda hoje, inclusive para os pés dos passageiros de trás.
A nível de comportamento, é um motor com apenas 60 cv, numa carroçaria deste tamanho, é naturalmente muito lento, muito lento mesmo, principalmente nas subidas, contudo as médias que tenho feito com ele são de 8,3l/100km, atinge com alguma facilidade os 100k/h e faz boas viagens à velocidade cruzeiro de 110/120 K/h, a velocidade máxima anunciada para ele é de 135km/h, e de facto dá com alguma facilidade, mas o motor bastante ruidoso a essas velocidades faz com que se reduza para a velocidade cruzeiro de 110K/h.
A colocação da alma...
E como já dizia um personagem famoso... Todo lá dentro.
Dinamicamente é a típica “banheira” balouçando como um barco quando se tem de serpentear por alguns carros, fruto da suspensão pensada no conforto dos passageiros, mas é fabuloso, sempre que balanceia lembro-me dos filmes com perseguições em banheiras americanas.
A direcção assistida é um espanto, leve, mais leve que dos meus outros veículos, guiador enorme e fino completa o quadro. A brecagem, é a que todos os condutores de Mercedes estão habituados, fabulosos.
Um carro muito fácil de conduzir no dia a dia e com uma boa economia de utilização.
Enfim, um dos meus clássicos de sonho já está comprado e pronto, agora que tenho um económico já me posso atirar para um com mais estilo, menos económico mas simplesmente fabuloso, UM 280SL (Pagode).